É hora de brincar: Psicóloga alerta sobre a adultização da infância

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Hoje, a agenda de algumas crianças é tão cheia de atividades e cursos que falta até tempo para brincar. Entre uma aula e outra, uma pausa para o videogame – muitas vezes, com jogos contraindicados para a faixa etária – ou, para acessar as redes sociais – também com conteúdo inadequado. Esta rotina, que é comum em muitas famílias, exemplifica o problema da adultização da infância, que, como explica a psicóloga especialista em Clínica Psicanalítica Infantil da Holiste Psiquiatria, Alice Munguba, é a aproximação da vivência infantil à vida de adultos e adolescentes.

“O que temos visto é a adultização da infância, isto é, uma busca para incluir esta etapa da vida naquilo que entendemos como um modo de vida mais próximo do adolescente e do adulto, daquilo que fazem, ouvem, dançam, comem, a maneira como se vestem e os conteúdos que consomem na sociedade. O risco desta adultização é a possibilidade de excluir as experiências infantis de descoberta, da brincadeira, do descompromisso, do tempo livre e do lúdico, tão importantes para o desenvolvimento da personalidade e de ferramentas para lidar com o mundo”, explica.

Para a especialista, brincadeira é coisa séria. Muitos responsáveis pautam a vida da criança a partir de tarefas, cursos e atividades que visam preparar o indivíduo para a vida adulta. Contudo, é preciso cautela para não expor os pequenos de maneira precoce a preocupações e exigências que dizem respeito à outra etapa da vida. Outro ponto, que a psicóloga levanta, é que o tempo livre para a brincadeira é tão – ou até mais – importante para uma preparação para os desafios do futuro.

“O tempo de brincar é essencial porque esta é a ferramenta que o ser humano conta para entender, pesquisar, investigar, as sensações, as cores, a relação com a família, com os amigos e com os outros. É uma forma espontânea de imaginar como as coisas funcionam e esta experiência inicial fica marcada na subjetividade, na memória e no corpo que está se desenvolvendo e estruturando a própria visão de mundo e a compreensão de si. Por isso é importante preservar este momento sem tantas interferências externas que suprimem este período tão precioso”, complementa.

Brincadeiras de criança x Jogos de gente grande

É comum que os pais e avós comentem sobre as brincadeiras na rua, as disputas e até as brigas entre os colegas, primos e vizinhos na infância. O fato é que muito desta experiência hoje em dia acontece virtualmente – através de jogos online. A psicóloga especialista em Clínica Psicanalítica Infantil da Holiste Psiquiatria, Alice Munguba, explica que o virtual não substitui as brincadeiras físicas no que corresponde ao desenvolvimento emocional e psicológico.

“A criança precisa brincar sem tanta mediação externa de instrumentos tecnológicos. É preciso que ela explore o espaço físico, o corpo, a relação com outras crianças, serão estes momentos que criam a possibilidade de aprender a respeitar o outro, a trocar, a ter empatia, a perder, a ganhar, a lidar com as limitações do corpo e até com a frustração. Nos jogos virtuais, por exemplo, não é a mesma coisa porque o corpo não está em cena e, por isso, não há o desenvolvimento dessas instâncias que serão fundamentais para um adulto saudável”, destaca.

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