Música em rede e autenticidade: conheça o Circuito Manacaos, de Manaus (AM) 

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Circuito Manacaos é uma rede sonora manauara que visa a integração e fomento da cena local e tem apoio da Natura Musical. Formada por artistas e bandas de Manaus – Luli Braga, Jambu, D’água Negra, Kurt Sutil e Guillerrrmo -, o projeto já está em curso desde o primeiro semestre de 2024, tendo desenvolvido ações de formação e realização de um show até aqui.

O Circuito Manacaos surgiu entre 2021 e 2022, a partir de conversas sobre um possível projeto coletivo que gerasse movimentações artísticas, geográficas e intelectuais. “Em algum momento, o D’água Negra se reuniu com a Luli Braga e lançou algumas ideias que rapidamente foram sendo lapidadas até alcançarem o escopo final do que é o Circuito Manacaos hoje”, completa Melka Franco, integrante do trio D’água Negra. “Desde o início, houve a necessidade de desenvolver um tripé de ações: 1) fomento cultural com desenvolvimento de novos profissionais; 2) produção artística e musical de cada artista e; 3) circulação desse mesmo pessoal pela cidade de Manaus”.

Com essa base formatada, o próximo passo foi decidir os artistas que fariam parte do projeto. “Buscamos a diversidade musical mesclada às possibilidades socioculturais que esse grupo heterogêneo poderia alcançar. E em paralelo, ficou muito claro a necessidade de trazer coletivos artísticos locais para endossar essa troca”, aponta Melka.

Conversas ampliadas, o Circuito Manacaos ganhou fôlego e se formatou pela confluência das carreiras individuais dos artistas envolvidos. Pessoas e bandas que já se autogeriam e produziam, perceberam no compartilhamento de experiências que havia muito a aprender e ensinar entre si e para outras pessoas – e que isso poderia ser aplicado a um edital. No caso, o da Natura Musical de 2022, ano de aprovação do projeto junto à marca.


“Seja pelo fator geracional ou territorial, as propostas artísticas fomentadas pelo Circuito Manacaos possuem origens e referências culturais comuns, ao mesmo tempo que revelam características singulares”, detalha a cantora Luli Braga. “Unidas, as perspectivas se somam e, por consequência, expressam a diversidade de linguagens da arte produzida em Manaus, elemento importante para a integração dessas carreiras ao mercado operante nos centros econômicos e culturais do país”, ela reflete.

As atividades do Circuito Manacaos

Nos meses de Julho e Agosto de 2024 foram realizadas a Fase de Ensino e Formação “Divindindo o Tucumã”, via Discochicas, um curso de Discotecagem e Produção Musical para mulheres cis, trans e pessoas não-bináries.

“No total, dez alunes foram diplomades nessa etapa, que teve aulas de professores e DJs atuantes no mercado musical de Manaus: Carol Amaral, Melka Franco, Guillerrrmo e Madame C.”, comenta a produtora Raissa Carvalho, integrante do Circuito Manacaos. “Na fase de Produção Musical formamos cinco alunes e tivemos aulas online com Erica Live (RJ) e um Workshop presencial de Produção Musical durante 2 dias no Casarão Cassina com Malka Julieta (SP)”.

Além da Fase de Ensino e Formação, a Fase de Circulação “Pegando o Beco” já está em curso também, com o primeiro show (de três previstos) realizado em agosto. “Com parceria do Movimento Nepal Vive da Zona Norte de Manaus, tivemos as apresentações dos artistas Kurt Sutil, Jambu – ambos participantes do Circuito Manacaos – e também de outros artistas convidados do projeto Nepal, como Sem Apadreco e Batalha do Vale”, adiciona Raissa.

No momento presente, o Circuito Manacaos se dedica à produção do material de fotos e finalização de áudio da fase “Fazendo a farinha”. Nela, cada um dos 5 artistas que participam do projeto lançarão um single inédito, produzido também em rede.

“Além dos lançamentos, nos preparamos para a entrega de mais dois shows que finalizarão o projeto no final de 2024. Um ensaio aberto com Luli Braga, D’água Negra e Guillerrrmo e o último show, o ‘Festival Manacaos’, em que todos os artistas envolvidos no projeto se apresentarão, além da participação dos coletivos de música eletrônica da cidade”, revela a produtora sobre o que ainda vem por aí esse ano.

Vale frisar que para além da vontade de projetar suas carreiras em rede, artistas e bandas realizadores do Circuito Manacaos também se fundam na necessidade de expressar, perante o próprio sujeito manauara, a sua polivalência artística e cultural.

“A origem do projeto surge da nossa compreensão coletiva de que para atingirmos tais posições, tanto culturalmente, quanto em números, em acessos e oportunidades, a gente precisa se unir em coletivos para gerar impacto no mercado e nas marcas. Nosso intuito é de termos condições econômicas de nos autogerir e retroalimentar nossos sistemas culturais”, endossa Bruno Belchior, integrante do D’água Negra e diretor criativo do projeto.

O sujeito artístico amazonense

Quando se pensa sobre quem é e como se produz o amazonense que faz arte – em específico aqui, música – “somos lançados num rio de ambivalências, contradições e multilinguagem”, discorre Belchior.

Para ele, o Circuito Manacaos decide então tomar essa contradição para si e propor uma força criativa em cima disso. “Somos sujeitos do sul global, brasileiros, do norte do país e ainda sim produzimos Rap, Jazz, Soul, Rock, Música Eletrônica e tudo aquilo que não esperam da gente, tudo aquilo que foge da alegoria que vendem da gente. O que não nos falta é autenticidade, novidade, revolta, desejo e verdade. Essa é a nossa base de inspiração que também está entrelaçada com o descaso ambiental que somos atravessados, o distanciamento geográfico, a fricção de sermos uma cidade hiperurbana e rodeada de um grande bioma”, ele explica.

No próximo mês de outubro, a concepção artística e conceitual do projeto serão expressas em um vídeo-manifesto, produção fundamental do Circuito Manacaos e que auxiliará numa compreensão ainda mais efetiva sobre seus objetivos e pautas. Para saber mais, acompanhe tudo em: MANACAOS (@circuitomanacaos)

O Circuito Manacaos foi selecionado por Natura Musical, no Edital 2022, ao lado de nomes como Quilombo Groove (AP), AQNO (PA), Caquiado (PA), Festival Apoena (PA) e Rawi (PA), entre outros. Ao longo de 18 anos, Natura Musical já ofereceu recursos para mais de 600 projetos, entre nomes consagrados como Emicida, Russo e Antônio Carlos e Jocafi, Dona Onete e João Donato; artistas em ascensão como Linn da Quebrada, Rico Dalasam; e projetos de registro e fomento de cenas, como Os Tincoãs e Mostra Pankararu de Música.

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