‘Ainda Estou Aqui’: Como Eunice Paiva teve Alzheimer? Médico vascular responde

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Protagonista da película vencedora de Melhor Filme Estrangeiro no OSCAR 2025, Eunice Paiva, esposa do ex-deputado desaparecido e morto durante a ditadura militar, Rubens Paiva, terminou seus dias com o Mal de Alzheimer. Eunice foi brilhantemente interpretada pelas atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro (já com a demência).

Mas, como uma mulher tão inteligente, proativa, que vivia buscando a memória do seu esposo, pode ter sido acometida por essa doença?

O médico vascular e angiologista Dr. Álvaro Pereira elenca algumas considerações importantes sobre o caso “Eunice Paiva”.

“Em primeiro lugar, Eunice teve, durante 14 anos, a doença de Alzheimer, isto é, muito para a doença de Alzheimer. A média é entre oito e dez anos. A enfermidade tem uma evolução muito rápida e, em média, dura oito anos. O segundo fator muito importante é que ela começou a ter a doença (morreu aos 89 anos) aos 75 anos de idade, que também é um fator bom. Significa que teve todos os cuidados anteriores, atividades cerebrais, intelectuais, o que ajudou para que a doença começasse em uma fase mais avançada da vida, uma vez que o Alzheimer pode começar muito mais cedo, e com uma tendência familiar marcante, importante”, revela o especialista que prossegue, “o fato dela durar mais 14 anos já é um indício de que teve uma condição melhor para que tudo isso acontecesse. Além de controlar todos os outros fatores, provavelmente clínicos, que é a hipertensão, diabetes e colesterol”.

Genética

A história familiar, no caso do Alzheimer, importa, mas muitas doenças que têm uma propensão genética, se se tem a doença na família, pais, mães, avós, aumenta-se o risco de ter aquela doença. “Digamos, por exemplo, câncer de próstata. Quem tem câncer de próstata na família, as chances aumentam. Mas, isso não é um indício obrigatório. Muitas pessoas não têm Alzheimer, mesmo tendo algumas pessoas da família que tiveram, e o contrário também pode acontecer”.

Não existem indícios ou sinais definitivos que garantam que a pessoa terá Alzheimer ou não. Há pessoas que precocemente começam a perder a memória, começam a ter demora no raciocínio, o que já indica que a pessoa terá uma propensão maior do que outras pessoas. Mas, tudo isso é corrigível, apresenta vários fatores externos que podem estar influenciando, sobrecarga de trabalho, preocupação excessiva, um monte de outros dados que podem interferir nesses dados e eventualmente fazer acreditar que se tem uma propensão ou não. “Então, não existe um roteiro exato para dizer se você vai ter ou não alguma das formas de demência. Isso vale para todas elas, não só para o Alzheimer”, destaca o médico.

Na opinião dele, por essa razão que esses cuidados gerais, principalmente em pessoas que têm história de demência na família, é importante que tenha esses cuidados gerais da saúde, ou propensão também para ter a arteriosclerose, diabetes, pressão alta, controle do colesterol. “Ter uma boa atividade física, usar sistematicamente o máximo que puder o cérebro, atividades intelectuais, conversar, ter um relacionamento social construtivo, ativo, também ajudam muito. Então, esse conjunto de coisas não só melhora a saúde de uma maneira geral, como também melhora ou diminui a probabilidade ou a gravidade de ter as diversas formas de demência”, aconselha. 

Segundo o vascular, Eunice Paiva viveu até os 89 anos e à medida que a gente vai envelhecendo, sempre vamos perdendo a capacidade cognitiva. É meio que obrigatório. Pelo menos esses índices, essa perda leve da cognição, é quase que obrigatória com o envelhecimento. É uma queixa muito comum. “Acho que a principal queixa no consultório dos geriatras é justamente essa perda moderada ou leve da cognição que todo mundo vai tendo. E é percebido principalmente pela perda da memória. São vários sinais. Existe uma demora mais para entender, dificuldade para aprender coisas novas, o raciocínio é mais lento, são vários fatores, mas o que se percebe com mais facilidade são essas perdas da memória. A pessoa esquece, em especial, coisas atuais. As coisas antigas, tardias, pode se lembrar, mas o que ela almoçou ontem, com certeza, ela não vai se lembrar”, conclui o médico.

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