Apneia do Sono pode atingir cerca de 87% da população idosa, aponta pesquisa

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Medicine and healthcare concept. Old man sleeping in bed at hospital ward pills and glass of water standing on table

Os distúrbios do sono estão entre os problemas mais comuns em idosos, estando a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) em primeiro lugar. De acordo com o Episono – Estudo Epidemiológico do Sono de São Paulo, cerca de 60,2% dos idosos entre 60 e 69 anos apresentam a doença, com números que aumentam para 86,9% entre idosos na faixa de 70 e 80 anos.

Dr. Lucas Vaz Padial, otorrinolaringologista com atuação em Medicina do Sono no Hospital Paulista, explica que o fato ocorre porque a idade está entre os fatores de risco à apneia do sono, bem como para distúrbios menos prevalentes, mas que também apresentam relevância epidemiológica em idades mais avançadas.

“Entre eles podemos citar os distúrbios de movimento do sono, como a Síndrome das Pernas Inquietas, e os comportamentais REM, que podem coexistir ou preceder o diagnóstico de doenças neurodegenerativas, entre elas o Parkinson”, afirma.

Conforme o especialista, tanto os parâmetros como a arquitetura do sono sofrem alterações de acordo com a faixa etária. Dessa forma, a própria fisiologia do sono é afetada pelo envelhecimento. “Idosos costumam ter um tempo de sono menor, além de, em média, irem dormir mais cedo. Somado a isso, comorbidades clínicas e psiquiátricas, uso de substâncias e os próprios distúrbios do sono podem mediar negativamente esta fisiologia”, ressalta.

Segundo o médico, prováveis processos neurodegenerativos do próprio envelhecimento podem alterar os núcleos cerebrais, gerando maior dificuldade em manter um sono prolongado, contínuo e reparador. Somados às alterações circadianas da idade, entre elas a variação da temperatura corporal e os níveis de melatonina no sangue, a sensação é intensificada.

Para a apneia do sono, o principal mecanismo que justifica a alta prevalência é o aumento da chance de colapsar a faringe — fechá-la enquanto dorme –, seja por fraqueza muscular ou pelo aumento de gordura na região do pescoço e da língua.

Identificando distúrbios do sono em idosos

Para identificar possíveis distúrbios do sono em idosos, é importante que as pessoas estejam atentas aos sintomas que começam a surgir precocemente. Entre os mais relevantes estão a sonolência excessiva durante o dia, necessitando de cochilos frequentes e/ou prolongados no decorrer da tarde.

“Despertar, muitas vezes, durante a noite, seja para beber água ou ir ao banheiro, também pode ser um sinal de alerta”, orienta o médico.

Segundo Dr. Lucas, por conta desta fragmentação, é comum a sensação de sono insuficiente e não reparador, compensado pelos cochilos excessivos durante o dia. “Isso diminui a ‘pressão de sono’ e o idoso novamente fica sem sono durante a noite, repetindo o processo sucessivamente.”

Em alguns casos, a sonolência pode não chamar a atenção, mas é importante ficar atento a sinais como alterações de memória e atenção recentes; transtornos de humor; aumento da frequência de idas ao banheiro, fazendo, muitas vezes, com que o idoso urine na cama; e sensações desagradáveis nas pernas, com necessidade de movimentá-las, bem como movimentos físicos bruscos e agressivos durante algum sonho.

Prevenção

O médico destaca que a prática de atividade física regular, de preferência diária, é a principal intervenção não farmacológica que leva a uma melhor percepção de sono em qualquer idoso e distúrbio.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prática de, ao menos, 150 minutos de atividade física moderada por semana, como caminhadas.

“Idosos que aderiram à recomendação apresentaram menores probabilidades de desenvolver os sintomas de insônia”, reitera o especialista. No entanto, ele alerta à carência de atividade mental de estímulos da percepção cognitiva, como leituras, que pode impactar negativamente a qualidade do sono.

“A própria superproteção de familiares e cuidadores gera um estado persistente de restrição ambiental, prejudicando o desenvolvimento de uma rotina de interação social, exposição à luz e marcadores circadianos, fatores significantes para um sono restaurador.”

Tratamentos

Os tratamentos para os distúrbios do sono dividem-se em intervenções gerais e específicas, de acordo com cada problema.

As intervenções gerais trabalham o contexto de hábitos de vida e higiene do sono, apontados acima, enquanto as específicas podem depender de uma avaliação médica criteriosa.

Entre as alternativas possíveis estão a terapia cognitivo comportamental (TCC), que auxilia no tratamento da insônia; exposição à luz artificial, em casos nos quais o contexto clínico não permite contato com luz natural; terapia farmacológica; e uso do CPAP, pequeno aparelho compressor de ar silencioso, utilizado no tratamento para apneia do sono.

“Se você conhece algum idoso que apresente sintomas e sente que isso impacta sua qualidade de vida, é de grande importância o agendamento de uma consulta médica. Assim, podemos, em conjunto, trabalhar as formas de tratamento e trazer conforto e benefícios para uma etapa tão importante da vida humana, que é o sono”, finaliza o especialista.

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