Brasileiros a partir dos 55 anos estão exagerando mais no consumo de bebidas alcoólicas e estão morrendo mais em razão do uso nocivo de álcool. O alerta é do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, referência nacional no tema, que analisou os dados do Ministério da Saúde entre 2010 e 2023.
O levantamento inédito, feito a partir dos dados processados para a publicação Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2024*, indica que a faixa etária 55+ anos foi a única que registrou aumento de mortes associados ao álcool entre 2010 e 2022, com crescimento de 29,4% no período. A cada hora, quatro pessoas nesta faixa etária morrem no país em razão do uso nocivo de álcool.
Outro dado que chama a atenção é o aumento do consumo abusivo de álcool por pessoas com 55 anos ou mais, caracterizado pela ingestão de grande quantidade de álcool em um curto período de tempo. Em 2010, 8,9% dos brasileiros nesta faixa etária relataram esse padrão de consumo. Já em 2023 esse índice subiu para 10,6%.
“Envelhecer com saúde está diretamente atrelado a fazer escolhas saudáveis para a vida e isso inclui o consumo de bebidas alcoólicas. Particularmente nessa fase, a redução ou até mesmo a abstinência de álcool associada a adoção de hábitos sadios são importantes para uma melhor qualidade de vida, além de contribuir para a saúde mental”, avalia Arthur Guerra, psiquiatra e presidente do CISA.
Confira algumas das razões para reduzir ou até parar de beber à medida que envelhecemos:
1) Alterações fisiológicas e na composição corporal: o envelhecimento pode diminuir a tolerância do corpo ao álcool e os efeitos da ingestão por pessoas idosas podem ser mais acentuados comparativamente aos adultos de mesmo sexo e peso. Isso pode ocorrer devido às mudanças na capacidade de metabolização hepática e função renal, além de maior tendência à desidratação.
2) Doenças crônicas: grande parte dos problemas de saúde dos idosos está relacionada a doenças crônicas, principalmente as não transmissíveis (DCNT), como as doenças cardíacas, hipertensão e câncer. O que muitas pessoas desconhecem é que o álcool é um fator de risco importante para as DCNT. Seu uso contínuo ao longo da vida, especialmente se frequente e em grande quantidade, poderá agravar essas condições de saúde.
3) Interação com medicações: o uso de álcool concomitante com medicamentos, fato comum nessa fase da vida, aumenta o risco de interferência nos efeitos do medicamento, com redução da eficácia ou intensificação dos efeitos. Já sua ingestão com tranquilizantes, anti-histamínicos, ansiolíticos, analgésicos ou antidepressivos faz com que certos efeitos sejam exacerbados, como sedação, sonolência, perda de coordenação motora e de memória. Importante: mesmo não sendo ingeridos ao mesmo tempo, é possível ocorrer interação, pois alguns remédios demoram para ser absorvidos ou seus efeitos são prolongados.
4) Prejuízos ao cérebro: a ingestão de bebidas alcoólicas é um fator de risco para o início precoce de todos os tipos de demência. Além disso, o consumo crônico dessa substância pode alterar circuitos neurais, como o de estresse e cognição, levando a alterações no planejamento motor, na coordenação motora, no equilíbrio, na fala, no comportamento e nas funções cognitivas. Ainda pode ocorrer comprometimentos emocionais, como depressão e ansiedade, relacionados principalmente a crises de identidade, queda na autoestima e autoaceitação.
5) Fatores de risco para uso nocivo: viuvez, solidão, perda de amigos, aposentadoria e isolamento social são alguns dos fatores de risco comuns nessa faixa etária que também podem contribuir para o consumo nocivo de álcool.