Pesquisas recentes indicam que é possível retardar a menopausa, o que pode estender a fertilidade feminina em até cinco anos. Este avanço surge a partir de pesquisas com a rapamicina, um medicamento inicialmente desenvolvido como imunossupressor, que mostrou eficácia na preservação dos folículos ovarianos em camundongos.
A menopausa, caracterizada pela última menstruação da mulher, desencadeia diversas mudanças significativas para a saúde. A queda nos níveis hormonais afeta não apenas a capacidade reprodutiva, mas também sistemas inteiros que dependem desses hormônios. O especialista em reprodução humana, Dr. João Guilherme Grassi, alerta que o declínio hormonal associado à menopausa eleva o risco de osteoporose, alterações de humor, depressão, além de sintomas como secura vaginal, dores articulares e distúrbios do sono. Esses efeitos decorrem principalmente da diminuição na produção e liberação hormonal, que interage com vários sistemas do organismo feminino.
“Um exemplo é o estrogênio, liberado pelos ovários antes da ovulação. Ele provoca reações intensas no organismo, que não se limitam à questão reprodutiva, ajudando a reconstruir músculos, dilatar vasos sanguíneos, aumentar o colesterol bom, e proteger a saúde dos ossos”, explica Grassi.
No estudo, a rapamicina demonstrou preservar os folículos e manter a função ovariana em camundongos. “As mulheres nascem com aproximadamente 2 milhões de folículos. A cada mês, elas menstruam e perdem uma grande quantidade deles. Essas pequenas estruturas liberam o óvulo, e por esse motivo são essenciais para possibilitar a gravidez. Para preservar a reserva ovariana e consequentemente a produção de estrogênio e fertilidade, uma possibilidade cogitada por cientistas é preservar o número de folículos através de compostos que diminuam a sua perda mensal”, ressalta o especialista.
A rapamicina age inibindo a via mTOR (mammalian target of rapamycin), que regula o crescimento celular, metabolismo e envelhecimento. A ativação excessiva da via mTOR pode levar ao esgotamento precoce dos folículos ovarianos, resultando na perda de óvulos. Inibindo essa via, a rapamicina pode desacelerar o envelhecimento dos folículos, preservando um maior número de óvulos saudáveis por mais tempo.
O estudo “Validating Benefits of Rapamycin for Reproductive Aging Treatment (Vibrant)” mostra que o uso da droga pode prolongar a fertilidade feminina em até cinco anos. Atualmente, a pesquisa inclui 34 mulheres, mas espera recrutar 1.000 participantes. O objetivo é verificar se a rapamicina pode realmente retardar a menopausa.
“Os primeiros resultados sugerem que a rapamicina pode atrasar o envelhecimento ovariano em 20%. Este é o primeiro estudo com a intenção de prolongar a vida ovariana. Em dois anos, um relatório mais detalhado será apresentado. No entanto, é necessário ter cautela com o uso de rapamicina, pois é um imunossupressor potente com efeitos colaterais significativos, como maior propensão a infecções, aumento do colesterol, anemia, danos aos rins e pulmões, além de aumentar o risco de linfomas e câncer de pele”, conclui Grassi.