“O Contato” chega às salas de cinema do Brasil nesta quinta-feira (15). O longa-metragem dirigido por Vicente Ferraz (“Soy Cuba — O Mamute Siberiano” e “A Estrada 47”) e produzido por Juliana de Carvalho, da Bang Filmes, estreia em São Paulo, Rio de Janeiro, Niterói, Brasília, Palmas, Porto Alegre, Recife, Belém, Ananindeua, Santarém e Salvador. Na segunda semana, de 22 a 28 de agosto, o filme também vai entrar em cartaz em Manaus. Já na terceira, de 29 a 04 de setembro, ele também estará em circuito em Caxias do Sul. O longa terá uma sessão especial com debate para convidados no Cine Brasília hoje (14), um dia antes da estreia nos cinemas. Com a presença do diretor, da produtora e da antropóloga Beatriz Matos, viúva do indigenista Bruno Pereira, o evento homenageia Bruno e o jornalista britânico Dom Phillips. Os dois foram assassinados a tiros por um grupo de pescadores ilegais no Vale do Javari, no Amazonas, em junho de 2022.
Falado em quatro línguas indígenas, o documentário foi rodado na região de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, e acompanha o cotidiano de famílias de diferentes etnias: os Yanomami, os Arapaso, os Baniwa e os Hupda. O município é conhecido por ser uma das regiões com maior diversidade étnica do Brasil, onde convivem 23 etnias e 18 idiomas nativos.
“O Contato” esteve na Mostra Ecofalante de Cinema 2024, em São Paulo, e, ano passado, teve sua première mundial durante a Mostra Competitiva do Festival É Tudo Verdade. Em 2023, ele também foi exibido no Festival Internacional do Novo Cine Latino-Americano, em Havana, Cuba. A distribuição do longa é da Pipa Pictures.
A produtora Juliana de Carvalho destaca a urgência da temática. “’O Contato’ foi feito para o público não indígena. Os povos originários conhecem esse cenário exuberante e essa história há muitos anos. Mas é essencial que todos os brasileiros entendam as verdadeiras consequências da invasão dos europeus colonizadores e mais recentemente do poder da ganância.”
As três histórias de “O Contato” estão conectadas pelo Rio Negro, via pela qual os personagens percorrem cerca de três mil quilômetros para chegarem aos seus destinos. Durante a jornada, a narrativa é conduzida por alguns personagens centrais: um grupo Yanomami que leva um filme sobre eles para ser exibido na aldeia; uma mulher Arapaso que viaja até a cidade para cuidar da filha que tem depressão; e uma família formada por Hupda e Baniwa, duas etnias que historicamente não se relacionavam, que vai apresentar seu filho Baniwa para os parentes distantes Hupda.
Para o diretor Vicente Ferraz, a universalidade da história conecta o público com a realidade abordada pelo documentário. “O grande desafio de realizar um filme sobre um universo aparentemente distante e complexo foi criar um recorte capaz de sintetizar diversos assuntos. Por isso, optei por acompanhar a jornada de algumas mulheres que estavam em busca de solucionar seus dramas familiares. Ao estabelecer uma ponte com elas, descobri que essas histórias, apesar de singulares, são universais e capazes de levar o espectador a entender as consequências da colonização no Alto Rio Negro fazendo uma imersão em uma realidade pouco conhecida dos brasileiros”.
As narrativas paralelas são contadas sob o ponto de vista dos indígenas e levantam temáticas atemporais sobre o impacto do contato com o homem branco, como a perda da língua, da tradição e identidade, além do extermínio de florestas e povos nativos. Também são relatadas histórias sobre a relação entre os diversos grupos étnicos, suas crenças e a sagrada conexão com a terra.
São Gabriel da Cachoeira, o ponto em comum para as três famílias, é um dos municípios com maior extensão do mundo, com 109.184,996 km². Localizado na região da Cabeça do Cachorro, que faz fronteira com Brasil, Venezuela e Colômbia, 95% da sua população é composta por indígenas. A produção do longa também contribuiu com projetos concretos para os povos envolvidos no filme. Entre as iniciativas, estão a reforma de um centro social, a construção de uma escola e o fornecimento de equipamentos de tecnologia para escolas e associações dessas comunidades.
“Me entrego 100% aos filmes que faço. Com ‘O Contato’ não é diferente. Tenho a responsabilidade de honrar as empresas que nos patrocinaram, os fundos de recursos públicos e leis de incentivo fiscal que apoiam a produção de cinema no Brasil e acima de tudo as pessoas que se dispuseram a contar suas histórias para o nosso filme. Fazer cinema é um trabalho artesanal e intenso, que só é possível com ética e fé na relevância do conteúdo”, ressalta Juliana.
O patrocínio do longa é assinado por Austral, Valid, Civil Master e CSP Consultoria e Informática, com a complementação do Fundo Setorial do Audiovisual/ ANCINE/ BRDE.
SINOPSE
Três grupos de personagens, indígenas moradores dos territórios no alto do Rio Negro – AM, contam sobre a história da colonização da região desde os primeiros contatos entre indígenas e não indígenas até os dias de hoje.