domingo, 28 abril, 2024
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Endocrinologista explica como a obesidade pode levar à doença do fígado gorduroso

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O dia 04 de março é marcado como o Dia Mundial da Obesidade e Guilherme Renke (@endocrinorenke), sócio fundador do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais), endocrinologista e médico do esporte, mestre em cardiologia, alerta a população sobre os riscos provocados pela obesidade. Considerada uma doença crônica, recidivante e multifatorial, ela é atualmente um problema mundial. Só no Brasil, o resultado da pesquisa Vigitel 2019 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), realizada pelo Ministério da Saúde, revelou que, desde o início do monitoramento, em 2006, o maior aumento na incidência de doenças crônicas foi o da obesidade, que saltou de 11,8% para 20,3% em 2019. Ao considerar o excesso de peso, 55,4% dos brasileiros estão nessa situação. 

O aumento no número de pessoas em sobrepeso contribui para que outras doenças se tornem mais comuns. É o caso da hepática gordurosa não alcoólica, também chamada de esteatose hepática ou fígado gorduroso. O endocrinologista Guilherme Renke explica que a doença acontece quando muita gordura se acumula nas células do fígado. Atualmente, representa um dos distúrbios metabólicos mais importantes do século 21.

– Ela é hoje a principal causa de doença hepática crônica e transplante de fígado em todo o mundo. Ela está ligada à obesidade, diabetes tipo 2 e outras doenças caracterizadas pela resistência à insulina – afirma Guilherme Renke.

De acordo com o Guilherme Renke, esse fenômeno pode estar associado ao estilo de vida moderno em países industrializados, que favorece uma vida sedentária e dietas hipercalóricas, promovendo obesidade e outras comorbidades crônicas, além de constitui um grave problema de saúde pública.

Mas o que leva ao desenvolvimento de fígado gorduroso?

Alguns fatores contribuintes para esta condição são:

  1. Obesidade: a obesidade envolve inflamação de baixo grau que pode promover o armazenamento de gordura no fígado;
  2. Excesso de gordura na barriga: pessoas com peso normal podem desenvolver esteatose hepática se forem “visceralmente obesas”, o que significa que carregam muita gordura ao redor da cintura;
  3. Resistência à insulina: a resistência à insulina e os altos níveis de insulina demonstraram aumentar o armazenamento de gordura no fígado em pessoas com diabetes tipo 2 e síndrome metabólica;
  4. Alta ingestão de carboidratos refinados: a ingestão frequente de carboidratos refinados promove o armazenamento de gordura no fígado, especialmente quando grandes quantidades são consumidas por indivíduos com sobrepeso ou resistentes à insulina;
  5. Saúde intestinal prejudicada: pesquisas recentes sugerem que ter um desequilíbrio nas bactérias intestinais, problemas com a função de barreira intestinal ou outros problemas de saúde intestinal podem contribuir para o desenvolvimento da condição.

Embora as causas exatas ainda não sejam bem compreendidas pela literatura médica, o endocrinologista Guilherme Renke avalia que fica cada vez mais evidente a conexão entre a doença e a resistência à insulina.

– A insulina é um hormônio. Quando seus músculos e tecidos precisam de glicose (açúcar) para obter energia, a insulina ajuda a sinalizar às células para absorverem a glicose do sangue. A insulina também ajuda o fígado a armazenar o excesso de glicose. Quando seu corpo desenvolve resistência à insulina, isso significa que suas células não respondem à insulina da maneira que deveriam. Como resultado, muita gordura acaba no fígado. Isso pode causar inflamação e cicatrizes no órgão – explica Renke.

Fígado gorduroso não alcoólico em adultos com diabetes tipo 1

O fígado gorduroso está tipicamente associado ao diabetes tipo 2, obesidade e resistência à insulina. No entanto, indivíduos com diabetes tipo 1 tornaram-se mais obesos nas últimas décadas e esta condição também foi descrita nessa população.

Um estudo mostrou que o tecido adiposo visceral, isto é, o excesso de gordura localizado centralmente no abdômen, mas não a gordura corporal total ou periférica, está associado à doença hepática gordurosa não alcoólica em adultos com diabetes tipo 1, mostrando que o estado inflamatório e a baixa sensibilidade à insulina encontrados nesta população com excesso de gordura visceral estão associados ao desenvolvimento de um fígado gorduroso.

A influência da microbiota intestinal no fígado

A microbiota intestinal é um tópico emergente, pois nas últimas décadas ela demonstrou desempenhar um papel crítico no desenvolvimento da doença hepática gordurosa não alcoólica. Os sinais gerados pela ingestão alimentar e fatores ambientais que perturbam a composição da microbiota podem alterar a integridade da barreira intestinal.

Dieta ocidentalizada, rica em açúcares, alimentos processados, gorduras saturadas e pobre em fibras impacta negativamente a composição de bactérias do intestino (disbiose), aumentando a permeabilidade da parede intestinal e favorecendo a translocação de bactérias para a circulação sanguínea do nosso organismo. Essas bactérias levam a uma inflamação de baixo grau, a qual está associada ao comprometimento do fígado.

– É fundamental olharmos atentamente à microbiota intestinal, pois ela possui influência na progressão da fibrose hepática em indivíduos com excesso de gordura no fígado. Resumindo, a inflamação causada por uma disbiose pode danificar as células do fígado, gerando cicatrizes irreversíveis, as quais comprometem a função do órgão – comenta o endocrinologista.

Diagnóstico

Por geralmente não apresentar sintomas, o diagnóstico costuma começar depois que um exame de sangue encontra níveis de enzimas hepáticas acima do normal. Mas isso, por outro lado, também pode sugerir outras doenças hepáticas. Diante disso, é essencial que o médico descarte outras condições antes de diagnosticar doença hepática gordurosa não alcoólica.

– Uma ultrassonografia do fígado pode ajudar a revelar o excesso de gordura no fígado. Qualquer exame para diagnóstico deve ser orientado e analisado por um médico qualificado – recomenda Guilherme Renke.

Tratamento: Dieta e exercício físico 

As intervenções no estilo de vida continuam sendo o tratamento de primeira linha para a doença hepática gordurosa não alcoólica.

O fígado gorduroso resulta principalmente da ingestão de alto teor calórico e da falta de atividade física em um contexto de predisposição genética. Portanto, considerando a doença hepática gordurosa não alcoólica como a principal doença hepática influenciada pelo perfil alimentar, as mudanças no estilo de vida se tornaram fundamentais na abordagem clínica desse distúrbio descrito nas diretrizes atuais.

– Hoje, a ciência nos mostra que uma dieta rica em alimentos antioxidantes e anti-inflamatórios é um caminho fundamental para a prevenção e tratamento de doenças metabólicas, incluindo a obesidade e a doença hepática gordurosa. Frutas e vegetais orgânicos, especiarias, nozes e azeite, alimentos típicos de uma dieta mediterrânea, mostram-se grandes aliados nesta cota de antioxidantes – avalia o médico endocrinologista.

A dieta mediterrânea se mostra com grande potencial para a saúde metabólica. Ela é composta, de uma forma geral, por uma combinação equilibrada de frutas, vegetais, peixes, legumes, cereais e gorduras poli-insaturadas de azeite de oliva extravirgem, com um consumo reduzido de carne e laticínios e um consumo moderado de álcool, principalmente vinho tinto.

Com sua alta ingestão de antioxidantes, a dieta mediterrânea contribui substancialmente para a redução do risco cardiovascular e, em particular, para a redução da incidência de trombose, hipertensão, diabetes mellitus tipo 2 e obesidade. Na era da medicina baseada em evidências, ela pode ser considerada o padrão ouro na medicina preventiva, visando um vasto espectro de doenças. Seus benefícios se devem à combinação de diversos alimentos com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.

Muitos dos compostos desses alimentos que trazem benefícios ao organismo podem ser isolados e disponibilizados na forma de suplemento, como a curcumina do açafrão e o resveratrol do vinho tinto. Dieta rica em frutas e verduras, suplementos antioxidantes, probióticos para auxiliar a modulação da microbiota e a prática de atividade física apresentam ação sinérgica na manutenção da saúde do fígado. Para isso, é muito importante a orientação e acompanhamento médico e nutricional, como pontua Guilherme Renke.

– O tratamento que tem apresentado o melhor resultado é a abordagem multidisciplinar, com uma equipe que inclui médico, nutricionista e educador físico, sendo um manejo adequado a essas pessoas. A intervenção nutricional que impulsiona a adesão a um padrão alimentar adequado e atividade física é mais eficaz do que qualquer opção farmacológica isolada. O tratamento envolve uma mudança constante nos hábitos de vida. Para reduzir o risco de progressão da doença, siga um estilo de vida saudável e tenha o acompanhamento de profissionais capacitados – finaliza o endocrinologista.

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