sexta-feira, 3 maio, 2024
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Helen Rossy realiza nova exposição de esculturas: ‘Bisignólio’

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Em terras que compõem o cenário do “fin del mundo”, nas cordilheiras andinas, um dos poetas mais importantes do século XX se debruçava ao oficio de dar vida ao mundo através das letras, e, de modo especial à natureza. Pablo Neruda (1904-1973), um apaixonado pelas florestas e pelas águas dos rios vivos e imaginários, declara todo seu encantamento por nossa natureza numa das mais belas e luzentes descrições no poema “Amazonas”, escrito em Canto Geral no final da década de 1940.

“Amazonas,
capital das sílabas da água,
pai patriarca, és
a eternidade secreta
das fecundações,
te caem os rios como aves, te cobrem
os pistilos cor de incêndio,
os grandes troncos mortos te povoam de perfume,

a lua não pode vigiar-te ou medir-te.
És carregado de esperma verde
como árvore nupcial, és prateado
pela primavera selvagem,
és avermelhado de madeiras,
azul entre a lua das pedras,
vestido de vapor ferruginoso,
lento como um caminho de planeta

Pois, o que há em Neruda e Helen Rossy? uma força que os conecta na mesma forma de expressar e cantar sua arte: a Paixão. A arte de Rossy representada nesta mostra chamada “Bisignólio” é Poema, retirado das “árvores nupciais”, que ganha nova vida por meio de suas mãos habilidosas em arrebatar dos “troncos mortos”, esculturas que povoam o imaginário de uma artista apaixonada pela natureza que a circunda e que como profunda observadora dos ciclos dos rios, desde sempre deixou que as águas guiassem sua vida.

Como todo poema revela sua origem, Bisignólio é o nome que pauta a criação da artista, cujo significado curiosamente está materializado nas formas dos “seres” desta coleção.  As reflexões poéticas para a construção do trabalho de Rossy perpassam pelo pensamento heraclitiano de um mundo em constantes mudanças e pela dinâmica dos movimento dos rios, onde troncos encontrados nas águas que “povoam os rios de perfumes” e as madeiras das sobras dos barcos, como as cavernas e os esqueletos são prima matéria para sua produção artística e geradores do conceito estético de suas obras.

O resultado desse processo podemos observar em cada peça exposta e afirmar que a arte  de Helen Rossy navega pelo mundo encantado, levando histórias de porto em porto até sua chegada “numa espécie de Olimpo submerso nos rios da Amazônia, onde habitam os encantados, os deuses da cultura amazônica e a atmosfera universal que impregna sua arte de poesia” (Paes Loureiro, 2007). Assim, é possível dizer que o fundamento de Bisignólio é uma fusão de rios e poesias, que passam “lentos como um caminho de planeta”, redesenhando a Natureza e emergindo a arte-intervenção como símbolo do imaginário a navegar no mundo particular da artista. Que sejamos bons contadores de história ao fruir a arte do Bisignólio navegante!

Serviço

Abertura: 11.11.22

Local: Galeria do Largo

Hora: 19h

Quantidade de Peças: 14

Encerramento: 12.02.23

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