quarta-feira, 24 abril, 2024
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Manu Gavassi volta ao cenário musical com “GRACINHA”

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Talvez fosse a terceira ou quarta vez que Manu Gavassi gravava a voz de “GRACINHA”, a faixa-título do seu novo álbum, quando caiu no choro. Lágrimas de raiva e felicidade escorriam misturadas. Ela sabia que uma parte do peso que carregou ao longo da já longa carreira artística estava saindo dos seus ombros naquele instante. Ao final daquela gravação, Manu estava mais leve como talvez jamais tenha estado.

Não é por acaso que “GRACINHA” também fora a escolhida para abrir o álbum – o primeiro de Manu desde o início deste processo de autoconhecimento, marcado pelo EP “Cute But Psycho”, lançado no final de 2018.

A mensagem da faixa, que você perceberá logo que der o play, dialoga com o que Manu vem dizendo em entrevistas desde então (inclusive para este que vos escreve, cóf-cóf-cóf, num longínquo ano de 2019), a respeito de um exemplar – e possivelmente doloroso – processo de autoanálise, reflexão e olhar no espelho para entender quem se é.

Da websérie “Garota Errada” ao EP o “Cute but (still) Psycho”, de onde veio a popular “áudio de desculpas”; da aula dada durante a megaexposição da participação no Big Brother Brasil 2020 ao hit “deve ser horrível dormir sem mim”, com participação de Gloria Groove, tudo o que aconteceu desde aquele 2018 até aqui foram pequenos e grandes passos para este momento.

Para esta canção – criada em um daqueles instantes que fazem a gente acreditar numa força maior e inexplicável – a melodia pipocou na cabeça de Manu quando entrava no banho e, uma chuveirada depois, estava completa. Era quase como que essa música precisasse “sair”. E o momento era agora.

Cada trabalho fez Manu conquistar uma independência artística que não se vê por aí. Quando o primeiro verso chega, portanto, é arrebatador: “Cansei de fazer gracinha”. É visceral, é pessoal, é autoconsciente.

Aqui, Manu volta a trabalhar com Lucas Silveira, que a produziu em “Cute but (still) Psycho” e “deve ser horrível dormir sem mim”. Há essa altura, Manu considera Lucas um “irmão mais velho”. E a parceria entre os dois chegou à intimidade familiar, mesmo. Inclusive, o álbum foi gravado em um sítio, com todos juntos, em janeiro de 2021.

Em família (seja de sangue ou aquela que a gente escolhe), afinal, temos liberdade para discordar, sumir e reaparecer tempos depois sem que isso seja um problema – o áudio do início de “sub.ver.si.va” é uma brincadeira entre eles, justamente por conta dos sumiços de Manu ao longo do processo do álbum, muito por conta da extensa carga de trabalho, desde 2020.

Todas as composições do disco, melodia e letra, são de Manu. As faixas em que Lucas surge nos créditos como compositor são aquelas em que a canção surgiu a partir de uma base enviada por ele. Mesmo que esteja muito claro da primeira à última nota, o produtor faz questão que todos entendam: “Este é um disco com a cara e a alma da Manu”.

Nas primeiras conversas entre eles, foram ditas algumas palavras-chave que dariam corda para a estética do álbum em si: “França”, “atemporal” e “chique”. Ao final destas nove músicas, é possível entender o que Manu queria com este direcionamento. Hoje, a definição da própria artista é um pouco diferente: “Vejo esse meu álbum como um grande brechó… E acho que me vejo assim também. Tenho referências de todo tipo, de Hannah Montanna a Molejo, passando por Françoise Hardy. E acho que vou continuar fugindo das categorias que tentam me colocar. Ninguém é uma coisa só. Essa é a magia” (risos).

Na época em que criava estas canções e as gravava, a artista se descobriu obcecada por pop francês. Não por acaso as bases mais pop pensadas por Lucas eram logo descartadas. Caso a mensagem não fosse tão clara, a participação de Alice et Moi e VOYOU deixou tudo mais evidente.

A opção estética do disco era por algo não cristalino nem clean demais. Todos os sons que você encontra ali são, de alguma maneira, propositalmente sujos, para criar textura e uma sensação de conforto, como se fosse algo que você sempre ouviu, mesmo sendo inédito. Não importa se é uma canção dançante, como a divertida “Tédio” ou uma balada de desamor, caso de “(não te vejo meu)”, o disco soa extremamente confortável, o que é ironicamente extremamente libertador pra Manu.

De modo geral, “GRACINHA” soa como um disco verdadeiro. Ponto. Um disco de pop contemporâneo que bebeu de diversas fontes e assim encontrou sua originalidade, que já é marca registrada de Manu. O vintage e o moderno caminham de mãos dadas aqui, fortalecendo o conceito do “álbum-brechó”. Por isso, o disco dá um nó na nossa noção de temporalidade e do que é “seguro” e esperado para uma cantora pop – e tudo bem, afinal estamos falando de arte, e ela é sempre mais revolucionária quando não busca desesperadamente por sentido. “GRACINHA” é também um dos primeiros álbuns do Brasil que conta com Storylines, uma ferramenta do Spotify que permite ao artista compartilhar imagens e textos para contar as inspirações por trás das canções.

 

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