sexta-feira, 19 abril, 2024
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Picos hormonais podem aumentar a incidência de Lipedema em mulheres

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O Lipedema é uma doença crônica que afeta mulheres causada pelo acúmulo de gordura nos braços, quadris e, principalmente, nas pernas, que provoca dores, problemas de locomoção e uma sensação de peso nesses membros. Hoje, a sociedade sabe um pouco mais sobre este assunto. Mas, quais são os gatilhos para esta doença, já que cerca de 10% das mulheres no mundo têm, segundo dados da Sociedade Espanhola de Medicina Estética (SEME)? É obesidade ou celulite? E por que só mulheres? Tem algo a ver com hormônios? Estas são algumas das grandes questões que envolvem o tema.

De acordo com um dos médicos pioneiros no tratamento do Lipedema no Brasil, dr. Fábio Kamamoto, que dirige o Instituto Lipedema Brasil, em São Paulo, o Lipedema depende dos hormônios femininos – o estrógeno e a progesterona – para se desenvolver. Por isso o foco da doença se dá em mulheres.

“Quando há o uso de anticoncepcional, por exemplo, o quadro de Lipedema piora. No início da puberdade, na gestação, em que existe um pico hormonal muito grande, ou quando a mulher faz tratamento para engravidar, e mais para frente entra na menopausa, que traz um novo padrão hormonal, todos esses momentos da mulher tendem a ser gatilhos para esta doença”, comenta.

Embora a fisiopatologia da doença não tenha sido totalmente elucidada, várias linhas médicas e estudos recentes internacionais evidenciam que a disfunção do estrógeno pode ser central para o desenvolvimento do Lipedema. Isto porque a desregulação de gordura que ocorre com a doença é causada pela sinalização desordenada deste hormônio. Em circunstâncias normais, o estrógeno interage com a gordura corporal para mantê-la saudável, evitando aumento do peso, por exemplo.

“Bagunça” hormonal – Este desequilíbrio hormonal resulta em aumento da gordura corporal, em inflamação e, consequentemente, desregulação da gordura, ou seja, em Lipedema. Segundo estudos do Lipedema Foundation, de Nova Iorque, o Lipedema se apresenta em momentos específicos da vida da mulher, de grandes movimentações hormonais como puberdade, gestação e menopausa, por causa de alterações nos receptores de estrógenos localizados na gordura.

Por que não em homens?

O Lipedema atinge quase que exclusivamente o público feminino e os poucos homens diagnosticados com a doença apresentaram baixo nível de testosterona e alto nível de estrógeno, comprovando a participação do hormônio no desenvolvimento da doença.

Lipedema é celulite?

Segundo estudos, 95% das mulheres têm celulite e muitas delas não sabem diferenciar do Lipedema. Apesar das semelhanças físicas entre o Lipedema e a celulite – aumento de gordura, irregularidade na pele, resposta ao estrógeno – por isso homens também não têm celulite -, qual é a diferença entre as condições? Segundo a dermatologista dra. Lyvia Salem, da Clínica Adriana Vilarinho, os fatores que estão ligados em ambos os casos são os mesmos.

“Os termos utilizados nos estudos científicos para explicar o surgimento de ambas as condições são muito parecidos. Até mesmo a biópsia de pele e subcutâneo dos locais acometidos possuem a mesma descrição. Os fatores e mecanismos envolvidos na formação da celulite e do Lipedema são muito semelhantes. O tecido adiposo é um órgão e tem receptores para hormônios, então acaba tendo uma função endócrina também”.

Tanto no Lipedema quanto na celulite, os fatores genéticos, os hábitos de vida e os alimentares, uso de pílula anticoncepcional, mudanças na vida da mulher que aumentam a quantidade de estrógeno vão ter uma interação significativa com o tecido da gordura e vão levar a uma congestão (retenção de líquido que “esmaga” esse tecido, deixando-o “afogado” e sem uma oxigenação adequada). Isso faz com o que o corpo produza mais fibrose (mais cicatriz). Este “fenômeno” acontece nas duas situações. Então por que é diferente?

O Lipedema é uma síndrome, não é uma coisa só. Com a celulite, a preocupação da mulher é mais estética. Para fazer um diagnóstico de Lipedema não basta olhar apenas a irregularidade da pele, pois este é somente um dos aspectos. No Lipedema, há aumento dos membros, há desproporção entre eles e o corpo, há uma dor diferente da dor de apalpação da celulite (principalmente quando está inflamada), há o peso nos membros, há equimoses (popularmente conhecidas como hematomas) ou seja, são muito mais sintomas no dia a dia da mulher. “O prejuízo na qualidade de vida para quem tem Lipedema é diferente”, comenta dra. Lyvia.

Já para a dermatologista dra. Annelise Marmore, da Clínica Annelise Marmore um dos grandes diferenciais entre a celulite e o Lipedema está na resposta às atividades físicas e dietas. “Quando a mulher diminui o peso e faz dieta, notamos uma melhora do quadro de celulite. E com o Lipedema, isto não é possível. A paciente consegue desinflamar, mas não é possível regredir o quadro. Esta é uma grande frustração das pacientes, porque elas começam a desenvolver outros distúrbios de imagem como anorexia, bulimia”, avalia dra. Annelise.

Para dr. Fábio Kamamoto, a celulite é uma condição frequente que afeta quase que a totalidade das mulheres e o Lipedema é uma celulite com outros comemorativos. “Sai do mesmo guarda-chuva, porém a mulher vai ter hematomas, piora progressiva na vivência hormonal, dor, limitações físicas e até emocionais”, diz dr. Kamamoto.

Características do Lipedema

As principais características do Lipedema, que possui quatro estágios, são: dores frequentes nas regiões das pernas, quadril, braços e antebraços, que ficam mais grossos e desproporcionais em comparação com o restante do corpo, no tornozelo parece que há um “garrote” e os joelhos perdem o contorno. “A mulher pode apresentar hematomas (ficar roxa) por qualquer movimento mais brusco. Isto acontece porque a doença provoca reação inflamatória em células de gordura nestas regiões”, ressalta dr. Fábio Kamamoto. Se há perda de mobilidade, aumento progressivo dessa gordura com o passar dos anos, se há dor em algumas das regiões-foco e dificuldades em eliminar a gordura mesmo com dieta e atividade física, é recomendado procurar ajuda médica, pois pode ser Lipedema.

Tem tratamento?

Sim, há dois tipos de tratamento para o Lipedema, o clínico e o cirúrgico. O clínico é composto por dieta anti-inflamatória (legumes, carnes, sem sódio e glúten ou bebidas alcóolicas); uso de plataforma vibratória, que diminui o inchaço nas regiões; drenagem linfática para tirar o excesso de líquido; e, por fim, a técnica de taping, aplicada por um fisioterapeuta para melhorar o desconforto. Estas ações amenizam os sintomas, mas não resolvem o problema da gordura nas regiões dos braços, pernas e quadril, pois não extrai as células doentes. Já o cirúrgico é feito com lipoaspiração e é definitiva. “Uma vez removida, esta gordura não volta mais, pois não há multiplicação dessas células. É possível remover por meio de lipoaspiração até 7% do peso corpóreo. Ou seja, um paciente de 100 quilos poderia remover até 7 litros de gordura”, finaliza dr. Kamamoto.

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