Especialista em Saúde de Família e Comunidade, com atuação na rede primária de atenção à saúde da Prefeitura de Manaus e na rede hospitalar do Estado do Amazonas, Shádia Fraxe foi gestora, por mais de 10 anos, do Instituto Médico de Clínica e Pediatria do Estado do Amazonas. A amazonense, médica e economista, há seis meses assumiu a Secretaria Municipal de Saúde de Manaus, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo. Na entrevista a seguir, a secretária conta mais detalhes de como tem sido o desafio diário de gerir a pasta de saúde em meio a uma pandemia. Confira:

Há seis meses da sua gestão como secretária de saúde, qual foi o maior desafio à frente da pasta?

A saúde pública é um grande desafio para qualquer pessoa que assuma essa missão. Mesmo sendo médica há 10 anos da SEMSA, e agora na condição de secretária, me vi em meio a maior e mais complexa crise sanitária já vivida por qualquer outro momento da história.

Os 15 primeiros dias culminaram com a explosão da chamada “segunda onda”, que interferiu sobremaneira na vida de todas as pessoas, e muito mais na dos gestores públicos. Eu tinha naquele momento aproximadamente 2.400 servidores afastados por licença médica e posso dizer que esse foi o momento mais crítico e ao mesmo tempo mais desafiador.

Felizmente, e paralelamente a isso, as vacinas passaram a compor a nossa rotina de enfrentamento da COVID-19, que passou a ser o maior de todos os desafios, uma vez que não havia vacina para todos, quando do início do processo.

No dia 20 de julho, completamos seis meses da maior campanha vacinação, e estamos vencendo todas as dificuldades impostas, nesse que foi o processo de vacinação mais complexo da história sanitária no país e do mundo. Ainda temos que buscar desafios maiores, vinculados às nossas responsabilidades junto aos nossos usuários, e assim, melhorar os indicadores de saúde e estabelecer uma saúde de maior qualidade e alcance ao nosso povo.

A Prefeitura de Manaus vem mostrando uma gestão mais humanizada, o que podemos esperar na área da Saúde?

Essa é uma diretriz da gestão do Prefeito David Almeida e minha também. Falar em gestão humanizada muito me emociona ao mesmo tempo que me desafia, pois sou médica da Estratégia Saúde da Família, e sei dos reclames da população por mais e melhores estruturas de saúde, especialmente nas áreas de vazio assistencial. O que para nós possa parecer apenas uma ação institucional, é para população um gesto de acolhimento, de carinho, de amor pelo povo que depende dessas ações para ter acesso à saúde e não posso ser diferente como gestora. Não posso querer menos que isso pois muitas vezes sonhei junto com o usuário do SUS por práticas de qualificação da Saúde pública.

Incentivo trocas solidárias entre gestores, trabalhadores e usuários. É necessário somar-se a isso a gentileza, a empatia, a atenção, a segurança de que estamos em qualquer serviço para acolher e servir. E esse deve ser o nosso papel. Faz parte de minha formação e não abro mão de que iremos fortalecer ainda mais a humanização na saúde municipal.

O esquema de vacinação realizado pela prefeitura surpreendeu o Brasil, hoje estamos na faixa etária de 18 anos, quando chegará a vez dos adolescentes?

É preciso registrar que nosso Plano Operacional de Vacinação local, sempre alinhado ao Plano Nacional, vem priorizando o alcance de metas dos grupos prioritários, e ao avançarmos para as faixas etárias, buscamos operacionalizar tanto as doses recebidas, com as respectivas reservas técnicas e sobras diárias, aos grupos definidos no Plano, e com isso já alcançamos 80% de primeiras doses.

Entendo que o sucesso e avanço da campanha se dá em razão, primeiramente, do compromisso sem limites e sem descanso dessa gestão e das equipes que envolvem servidores e colaboradores parceiros, e isso não seria possível para realizar nossas ações de intensificação do processo de vacinação, as quais foram muito bem acolhidas pela população, oportunidade que tivemos de oferecer locais e horários diferenciados, em dias que incluíram finais de semana, feriados, e horários acima do normal.

Não há logística de sucesso sem o envolvimento dos servidores. Eles são e sempre serão o componente principal do alcance e superação de metas. E o nosso Prefeito tem oportunizado para SEMSA, todas as condições necessárias para isso.

Adolescentes não foram inicialmente previstos na população vacinável. Porém Com o avanço da vacinação contra a Covid-19, alguns estados e municípios já planejam a imunização de adolescentes de 12 a 17 anos, com comorbidades. Ainda estamos fazendo avaliações neste sentido, e breve teremos uma resposta, pois dependemos de imunizantes diretamente remetidos pelo ministério da saúde, para execução desse plano suplementar.

Manaus viveu momentos difícil na pandemia, podemos dizer que agora estamos mais tranquilos?

Com o avanço da vacina, o cenário epidemiológico é, sem dúvida, no momento, muito mais favorável. Diferente dos primeiros meses do ano, quando enfrentamos uma crítica segunda onda, já permitindo o retorno de muitas atividades que tiveram que ser interrompidas, em razão da instabilidade sanitária que vivemos.

Mas, não se pode dizer que a situação está superada, pois que o Brasil, ainda não alcançou sua total imunização. Além disso, somos um país de dimensões continentais, com inúmeras fronteiras, e com países vizinhos que ora vivem crises diversas, a propiciar a imigração, cujo panorama deve servir de alerta para manutenção dos cuidados, até que se atinjam as metas de vacinação em todo o país, e os indicadores epidemiológicos sejam positivos para liberação da situação de emergência e pandemia.

Um grande debate se abre nas redes sociais, sobre o uso de máscaras. Você acredita que já estamos prontos para deixar de usá-las?

Como disse acima, os cuidados de um modo geral devem ser preservados, e o uso individual, e coletivo, de máscaras, é uma importante ferramenta de cuidado consigo e com sua própria família. Se todos assim o fizerem, estaremos nos cuidando mutuamente, e tudo voltará ao normal. Temos que nos unir por um único objetivo: ultrapassar esse momento para dias melhores.