sábado, 20 abril, 2024
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Vencedor de prêmio internacional de arquitetura aponta caminho para reabilitação do Centro

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A preservação do estado de uma ruína histórica, com forte ligação na paisagem e no imaginário coletivo de uma metrópole, misturando história e futuro, é um dos pontos de partida do projeto de reabilitação arquitetônica do Casarão da Inovação Cassina, no Centro de Manaus.

Assinado pelo arquiteto belga Laurent Troost, radicado na capital amazonense, o projeto é vencedor do prêmio Architecture MasterPrize (AMP), na sua 6ª edição anual 2021, na categoria Patrimônio. O prêmio global de arquitetura reconhece a excelência em design e qualidade em todo mundo.

Como o Cassina projetado por Troost, o Architecture MasterPrize é uma celebração da criatividade, inovação, arquitetura paisagística e promoção do belo, com seu exuberante jardim tropical, associado a vidros, transparências e reflexos, num edifício que bebe direto da fonte do patrimônio e se associa no presente à tecnologia, virtualidade e contemporaneidade.

“No caso do Cassina, a preservação do estado de ruína tornou a intervenção um manifesto por ser também a última fachada em Manaus com argamassa pigmentada com pó de arenito vermelho. Para tornar visível esta especificidade e paralisar a sua degradação, foram realizados minuciosos trabalhos de restauro”, explica o arquiteto, que também é um dos finalistas, também com o projeto do Cassina, do Prêmio de Arquitetura 2021 Instituto Tomie Ohtake AkzoNobel.

Em Manaus, o escritório Laurent Troost Architectures atua no mercado com desenvolvimento de projetos para residências, empresas, indústrias e de uso misto, e o trabalho com o Cassina apontou para a tendência de reabilitação de Centros históricos, incluindo regeneração de espaços urbanos e reuso. “O fato de ousar um projeto de restauro diferenciado permite atrair olhares nacionais e internacionais, o que valoriza o patrimônio edificado e seu entorno. E isso pode ser perfeitamente repetido na iniciativa privada, com a reabilitação de prédios e imóveis particulares, em sinergia para a construção de um Centro mais denso e ocupado”, afirma o premiado arquiteto, que atuou 8 anos como diretor de Planejamento de Manaus.

“As áreas centrais, que não eram muito fortes no Brasil, em termos de vivacidade e urbanidade, com a pandemia, foram as primeiras que sofreram. Hoje, por um lado, o Centro de Manaus esta mais esvaziado por conta de negócios que não aguentaram a pandemia, porém, por outro lado, existem varias iniciativas privadas de pequena escala que apostam neste momento como oportunidade para investir no Centro e ousar pensar a urbanidade e o patrimônio histórico de forma diferente. Observo este momento como um renascimento e estou esperançoso com um Centro vivo, ativo, mais próximo das pessoas e da natureza.”

Casarão

O Casarão da Inovação Cassina foi projetado como um centro de tecnologia digital, para abrigar espaços de fomento à criatividade e encontros para os criadores da economia digital. “Por meio da inserção de uma floresta tropical e de uma estrutura de aço industrial nas ruínas de uma casa histórica, o Cassina é a síntese dos ciclos econômicos da capital Manaus: a era da borracha, seu declínio, a era do Distrito Industrial e a era da nova economia digital”, afirmou Laurent Troost.

Construída em 1896 e em ruínas desde os anos 1960, as fachadas degradadas foram tomadas pela vegetação, com o tempo, criando uma beleza na imperfeição e no abandono de um patrimônio construído numa região emblemática, próxima do rio, onde nasceu a cidade. Não é à toa que a imagética da ruína, com suas potencialidades poéticas e plásticas, foi explorada por inúmeros artistas e arquitetos: Piranesi, Gordon Matta-Clark, Robert Smithson, Lúcio Costa (Museu das Missões), Paulo Mendes da Rocha (Pinacoteca de São Paulo e Capela Brennand) e Ernani Freire (Parque das Ruínas), para citar apenas alguns.

“Quem acessa o prédio pela passarela que cruza o vazio sobre o jardim lembra a razão intrínseca de Manaus: a floresta amazônica. Esta forma inovadora de lidar com o patrimônio não esqueceu os aprendizados de sustentabilidade passiva, como estrutura de aço pré-fabricada, ventilação cruzada, permeabilidade, microclima, beirais grandes, telhado ventilado, esquadrias de vidro duplo”, comenta o vencedor do prêmio.

Projeto

Os quatro pavimentos da área de quase 1.600 metros quadrados foram projetados para dar ao visitante, usuário e público em geral o valor da memória popular e cultural associado ao bem histórico na reabilitação. O imóvel, localizado na rua Bernardo Ramos, na confluência das ruas Governador Vitório e Frei José dos Inocentes, se destaca com amplas áreas envidraçadas, escada em aço e espaços generosos de vegetação que dão ao ambiente uma amplitude espacial de qualidade.

A área de transição do jardim, com paisagismo de floresta exuberante e tropical, associado ao vidro, às transparências e ao aço, reúne o antigo e o futuro. O jardim fica posicionado por trás da fachada histórica que faz frente à praça Dom Pedro II. A fachada nova, inteiramente envidraçada, segue erguida em um plano recuado em relação à fachada existente, o que evidencia e valoriza mais o perfil histórico de décadas.

As fachadas marcantes da edificação estão preservadas com suas características originais. O projeto fez a proteção de uma característica original e específica do antigo hotel Cassina: o edifício é o último representante em Manaus de fachada com argamassa pigmentada com pó de pedra jacaré.

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