sexta-feira, 26 abril, 2024
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Alerta: em 15 anos, dobra a população de obesos no Brasil

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O Ministério da Saúde divulgou dados da pesquisa Vigitel que mostra hábitos e estado de saúde da população brasileira e um dado chama muita atenção: 22, 35% dos pesquisados se declara com obesidade, ou seja, o peso está acima do Índice de Massa Corporal (IMC) de 30 kg/m². Há 15 anos, quando em 2006 foi realizada a primeira pesquisa Vigitel, este percentual era de 11,86%. Ou seja, dobrou a população de obesos em 15 anos. Se antes, era um obeso a cada dez pessoas, agora são dois obesos a cada dez ou um a cada cinco. O salto é bem maior entre os declarados acima do peso, com IMC entre 25 Kg/m² e 30 Kg/m², que em 15 anos, subiu de 42,74% para 57,25%. É um grande aumento também, mas num ritmo menor do que entre obesos.

O Atlas Mundial de Obesidade de 2022, divulgado neste domingo (8), aponta que um bilhão de pessoas em todo mundo viverão obesas até 2030. E a OMS também publicou o importante relatório WHO European Regional Obesity Report 2022 sobre o estado da obesidade na região Europeia. Mostra que o excesso de peso e a obesidade estão entre os principais fatores de risco para a mortalidade e incapacidade sendo responsável por mais de 10% de total de mortes na região a cada ano e 7% do total de anos vividos com incapacidade.

“Chama muito a atenção do aumento da obesidade nas populações de baixa renda, que se alimentam de comida industrializada e de pouca qualidade por serem mais baratos. E isso traz um alto custo para o sistema de saúde, com pessoas portadoras de doenças renais crônicas, derrame, hipertensão, diabetes, sequela de infarto. O sistema não irá suportar o custo. A população obesa está sem o apoio necessário para vencer essa doença difícil de ser controlada, chamada obesidade. São pessoas que estão muito acima do peso por diversos motivos diferentes, como genética, ambiente social e condição econômica, e que não conseguem chegar ao peso ideal apenas com dietas restritivas e prática de exercícios físicos. Provavelmente precisam de intervenções mais severas, como uso de medicamentos que auxiliem na redução do apetite, afastamento dos grupos de convivência que incentivam a má alimentação, apoio psicológico e nutricional e acompanhamento para atividades físicas sem lesões. E se chegam ao IMC de 35 kg/m² pode ser que já necessitem de cirurgias bariátricas, mas seguem desamparadas por falta de serviços públicos nessa área ou porque possuem recursos para tratar, mas preferem aceitar a condição da obesidade porque não possuem informações adequada sobre como funciona a cirurgia” diz o médico cirurgião, Cid Pitombo.

Tem sido comum a defesa de que um obeso não é um doente. Sim, muitos não são enquanto jovens, o problema é que os problemas aparecem lá na frente, com a idade avançada. Obesidade e sobrepeso, antes eram considerados problemas de países de alta renda, e agora estão aumentando dramaticamente em países de baixa e média renda, especialmente em áreas urbanas.

“O que a população não sabe é a quantidade de gorduras, farinhas, partes de carnes menos nobres que são misturadas nesses alimentos. Um produto industrializado não sai mais barato à toa. Fora outros problemas que também podem provocar, como a hipertensão e o diabetes, pelo excesso de sal e de açúcar”, fala o médico e pesquisador Cid Pitombo, especializado em tratamentos para obesidade.

E os hábitos ruins de alimentação e também de sedentarismo estão se perpetuando. Os filhos de pessoas acima do peso já estão nascendo com tendência a acumularem mais gordura corporal. A hereditariedade da obesidade está passando entre as gerações familiares.

“O que temos visto é uma aceleração muito acentuada da obesidade entre as crianças, porque elas já não tomam água, querem apenas mate e sucos de caixinha. Os jantares muitas vezes são substituídos por franguinhos prontos, macarrão instantâneo ou hambúrgueres com pão. As crianças não aceitam os legumes e verduras e os pais acham que não há o que fazer. Na lancheira da escola, vão biscoitos recheados e salgadinhos. Mas tentamos mostrar que dá, por exemplo, para colocar legumes batidos no caldo de feijão. Comer legumes e verduras é hábito, uma educação alimentar que começa cedo e deve se manter. Temos que insistir. Se a criança não gosta muito de frutas, mas só ofertamos frutas, ao invés de biscoito recheado, a criança acabará comendo a fruta”, defende o médico Cid Pitombo.

Estar obeso aumenta o risco do aparecimento de dezenas de doenças, não só articular, muscular, cardiológica, pulmonar, bem como uma diversidade de doenças metabólicas como diabetes, alteração do colesterol, doenças renais e muitos tipos de câncer. “E ainda temos as doenças psiquiátricas associadas, como depressão, isolamento social e até suicídio. Não estou afirmando que por ser obeso a pessoa está doente, assim como não falamos que por fumar, também está. O que estamos afirmando é que em ambas as situações aumentam a chance de obesos desenvolverem algumas doenças”, explica.

Doenças ligadas à obesidade

A diabetes é uma doença com maior relação com obesidade. O aumento da gordura, principalmente a visceral (dentro da barriga) leva à produção de substâncias que prejudicam a ação da insulina e da glicose. O aumento de peso tem uma relação direta no aumento da pressão arterial, distúrbios no metabolismo do colesterol e triglicerídeos. “Tudo isso leva a uma chance maior de infarto e desenvolvimento de doenças cardiovasculares associadas. As causas e a relação direta entre câncer e obesidade não são tão conhecidas como a do diabetes e doença cardiovascular. Mas em um encontro de especialistas em câncer em 2007 ficou claramente demonstrada a relação entre alguns tipos de câncer e obesidade, como câncer de pâncreas, pulmão, cólon, esôfago, mama, rim entre outros. E estudos envolvendo quase 60 mil obesos mostraram a clara relação entre obesidade e depressão”.

Já com relação à doença pulmonar, quando o obeso acumula muita gordura no abdome isso irá comprimir o diafragma, o músculo que divide o tórax do abdome. Com isso, comprime-se o pulmão e se dificulta a respiração. Além disso, o tórax fica menos flexível. Substâncias inflamatórias também são produzidas e atrapalham a função pulmonar, elevando a incidência de doenças como bronquite e asma. Um exemplo que comprova esse fato, foi a alta mortalidade de portadores de obesidade durante a epidemia do Covid-19.

“O obeso é um organismo delicado e que pode desenvolver distúrbios musculoesqueléticos. Difundir atividades físicas em obesos, sem a devida orientação, por exemplo, pode levá-lo a lesões. E estar fora do peso aumenta a incidência de doenças osteoarticulares. Cerca de um terço das cirurgias de próteses de joelho no mundo são em obesos e a grande maioria das de quadril também.

Cirurgia bariátrica

Muitas das pessoas com super obesidade, que não conseguiram chegar ao peso ideal com dietas, exercícios físicos e medicamentos recorrem à cirurgia bariátrica. A técnica, que hoje é muito mais simples, segura e menos invasiva, também vem sendo usada para promover uma resolução do diabetes tipo dois em obesos que não chegam a ser considerados super obesos. Por meio de um equipamento chamado videolaparoscopia, em apenas 30 minutos de cirurgia, segundo o Dr Cid Pitombo, é possível separar uma pequena parte do estômago e outra do intestino por onde os alimentos continuarão passando. Assim, o paciente passa a ter menos espaço para armazenar alimentos e também produz menos hormônios que aumentam o apetite. Além disso, no intestino, absorve menos gorduras e por isso o emagrecimento acaba ocorrendo rapidamente quando se pratica uma dieta equilibrada e saudável. Mas quem atinge o peso ideal após a cirurgia, pode voltar a comer de tudo um pouco, desde que respeite as quantidades permitidas, lembra o médico.

Os obesos muitas vezes precisam fazer acompanhamento com psicólogos para aprender a controlar melhor problemas como a ansiedade que os levam a consumir mais alimentos e até mesmo mais álcool. “Depois que emagrecem, eles querem aproveitar a vida e fazer coisas que já não faziam antes. Alguns extrapolam e acabam bebendo e comendo mais do que deveriam. O que leva parte deles a engordar de novo um pouco mais ou nem emagrecer tanto como poderia. Outros abandonam a atividade física. Eu ensino aos meus pacientes que a disciplina é fundamental. Nada na vida é fácil. Atingir metas sempre exige esforço constante. Mas em geral, os que deixam a obesidade no passado sentem-se muito felizes e recomeçam uma nova vida, sem preconceitos e limitações”, finaliza.

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