Quando se fala em pirarucu, as pessoas imediatamente pensam no sabor do peixe gigante típico da Amazônia. De fato, o pirarucu manejado conquistou paladares ao redor do mundo, estrelando o cardápio de chefs renomados e as prateleiras de grandes redes de supermercados, atraindo cada vez mais consumidores. Mas não são só as peças deliciosas do peixe que interessam ao mercado. A pele do pirarucu, que até pouco tempo era descartada, tem sido utilizada para a confecção de roupas, acessórios e estofados, agregando ainda mais valor ao pescado de origem sustentável.
Com apoio da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), manejadores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, no estado do Amazonas, comercializam a pele do pirarucu para a empresa Nova Kaeru, que transforma o insumo em um curtume orgânico utilizado na fabricação de cintos, bolsas, sapatos e estofados. A parceria garante a geração de renda para as famílias manejadoras, com a pele do pirarucu vendida atualmente no valor de R$ 160.
“A estratégia de vender a pele do pirarucu, que antes era descartada, é uma maneira de agregar valor ao produto. Além de mostrar aos consumidores outras possibilidades de aproveitamento desse pescado, fazendo com que o produto esteja em vários lugares, inclusive, no meio da moda”, explica a superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades da FAS, Valcléia Solidade.
A empresa compra a pele diretamente dos manejadores. Para preservar o insumo, a FAS e a Nova Kaeru promoveram capacitações aos manejadores para fazer a retirada e o beneficiamento da pele do pirarucu, deixando-a pronta para ser transformada em matéria-prima de vestimentas e acessórios, por exemplo.
Segundo Valcléia, é importante entender o conceito sustentável por trás do manejo do pirarucu. A espécie, que quase desapareceu das águas do Amazonas, encontrou reequilíbrio com incentivo ao manejo sustentável. Parcerias como essas são fundamentais para promover o valor da manutenção da floresta em pé.
“O pirarucu quase deixou de existir, então houve um processo muito grande de olhar esse produto não só como alimento para os ribeirinhos, mas também para a Amazônia como um todo. A Nova Kaeru está dentro desse conceito e traz uma integridade a esse processo. É uma parceria que se fortalece a cada ano; começamos a vender a pele por R$ 126, hoje está a R$ 160. A cada ano tem uma agregação de valor nessa pele”, informa Valcléia.
O manejo sustentável da RDS Mamirauá possui autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema). A FAS presta assistência técnica e assessoria para essa cadeia produtiva desde 2010.
“Apoiamos a cadeia produtiva em cinco unidades de conservação do Amazonas, entre elas a RDS Mamirauá, para que de fato as comunidades consigam colocar o produto no mercado, seja em restaurantes, nas feiras ou para parceiros como a Nova Kaeru. Com isso, queremos não só dar visibilidade a essa atividade, mas principalmente agregar valor que possa sustentar esses manejadores, que são os verdadeiros guardiões da floresta”, diz.
O pirarucu de manejo sustentável possui três conceitos agregados, explica Valcléia: o ambiental, o social e o econômico. “O conceito ambiental envolve o manejo em si, onde as pessoas realizam o trabalho de cuidar dos lagos, fazer a contagem dos peixes e evitar as invasões e pesca predatória. O conceito social reúne as pessoas em prol de uma causa, que é manter e até ampliar a quantidade de peixes. E o conceito econômico é o resultado desse trabalho, que envolve homens e mulheres que se dedicam a esse produto extrativista, para que ele possa trazer benefícios econômicos para as famílias daquele território”, explica a superintendente.
Cadeia de valor
Além da venda da pele, a FAS incentiva outras iniciativas da cadeia do pirarucu da RDS Mamirauá. Em feiras apoiadas pela FAS em 2023, os pescadores comercializaram 23,7 toneladas de pirarucu, gerando um faturamento de mais de R$ 240,8 mil. A venda beneficiou diretamente 112 manejadores.
A FAS também lançou, em 2022, o clube de comercialização por assinatura de pirarucu de manejo sustentável do Amazonas, o Piraruclub. Em um ano de existência, a iniciativa realizou a venda de 4,4 toneladas do pescado, gerando um faturamento de R$ 158 mil e beneficiando 110 famílias manejadoras no estado.