quarta-feira, 15 maio, 2024
quarta-feira, 15 maio, 2024

Queima Completa (Burnout): Como o esgotamento no trabalho prejudica a nossa vida

Em

“Ser o primeiro a chegar e o último a sair” sempre foi sinônimo de admiração e profissionalismo no trabalho, um exemplo perfeito a ser seguido. Essas pessoas que “vestem a camisa” foram, durante muito tempo, o símbolo da cultura de “glamourização do workaholic”. Expressões como “fazer mais com menos” e “realizar tudo no menor tempo possível” trazem, de maneira inconsciente, uma sensação de que o seu trabalho determina quem você é e o seu “sucesso na vida”. Porém, em um mundo de comunicação instantânea e cada vez mais exigente por resultados, o tempo e o espaço destinado ao trabalho invadiram a esfera pessoal e afetaram as relações familiares e sociais. De maneira ampla, podemos dizer que a dinâmica atual de trabalho sob pressão excessiva vem literalmente esgotando as pessoas e prejudicando sua saúde física e mental.

O Brasil está em 2º lugar dentre os países com maior índice de Burnout com 30 milhões de cidadãos afetados. De acordo com o Ministério da Saúde, a Síndrome de Burnout é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. Em suma, é um estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado adequadamente.

O Burnout apresenta 3 dimensões: a) Exaustão: quando a pessoa não consegue mais mobilizar a energia necessária que o trabalho requer (cansaço físico e mental); b) Despersonalização: quando surgem atitudes insensíveis em relação ao outro, com traços de cinismo e indiferença e; c) Reduzida Realização Profissional: uma sensação constante de insatisfação com o trabalho e com a própria vida. Em resumo: desgaste, desistência e “queima”.

De acordo com a literatura sobre o tema, inúmeros são os fatores que podem desencadear essa condição de sobrecarga: excesso de trabalho, falta de reconhecimento, situações de assédio, restrições à criatividade, mau relacionamento com os colegas, carência de pessoal para realizar as tarefas, prazos inegociáveis e metas abusivas. Além disso, a empresa ou órgão público pode contribuir para o esgotamento quando não oferece as condições de trabalho adequadas: segurança ineficiente, falta de ergonomia (móveis, iluminação, ventilação, equipamentos danificados etc.) e ausência de espaços de sociabilidade. Também deve ser levado em consideração o perfil de uma pessoa com inclinação para o burnout: geralmente, são indivíduos idealistas, exigentes e altamente perfeccionistas.

Marlon Bernardo, Presidente do SINDSEMP-AM, observa que “essa cultura de pressão, excessos e aparências potencializada pelas redes sociais, um modo de vida “always on” (sempre ligado), provocou sérios danos à percepção dos limites individuais. O “tempo de tela” já é considerado um dos principais fatores para o desenvolvimento de burnout. Por isso, o sindicato do MPAM fará uma campanha chamada “Desconecta” que, apropriada (ou ironicamente), será veiculada pelo perfil no Instagram @servidores.mpam”

Quais estratégias as Instituições e os gestores podem adotar?

A multiplicidade de fatores exige uma variedade de intervenções: redefinição e reorganização dos processos de trabalho, uso da tecnologia para reduzir o esforço manual, revisão de normas e políticas institucionais, dimensionamento da força de trabalho, promoção de valores humanos com ênfase na coletividade (cooperação), combate ao assédio moral e sexual, solução consensual de conflitos e promoção do bem-estar como estratégia institucional (ações de relaxamento e controle de estresse, grupos de apoio, flexibilização do horário de trabalho, programas de teletrabalho, capacitações de ordem técnica ou de habilidades interpessoais, maior participação das pessoas nas tomadas de decisão e estímulo a atividades de expressão artística). No âmbito individual, é necessário criar hábitos saudáveis, tais como: maior tempo para lazer e socialização, evitar comparações com os demais, reconhecer seus limites e manter uma visão realista de si.

Marlon Bernardo completa: “Estamos diante de um fenômeno ocupacional de escala mundial. Recentemente, vivemos uma pandemia sanitária pela covid-19 que durará alguns anos. Porém, a síndrome de burnout, por ser um estado emocional, também guarda aspectos contagiosos. Precisamos mudar nossa relação com os excessos do trabalho sob o risco de vivermos uma pandemia cultural que levará gerações para ser enfrentada”.

Compartilhar
Tags

Mais lidas

Recentes

Veja Mais

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.